segunda-feira, janeiro 03, 2011

Maria Bethânia

"Só canto o que quero, com quem quero, como quero e quando quero. Nunca entendi nenhum movimento, porque não tenho paciência, não posso jamais ser uma cantora de bossa nova. Uma cantora de protesto, uma cantora tropicalista. Como cada dia eu quero cantar uma coisa, prefiro não me ligar à nada e a ninguém, para poder cantar o que o meu coração mandar".    
                                                                   Maria Bethânia



BIOGRAFIA


ANOS 60

Maria Bethânia Vianna Telles Veloso nasceu geminiana no dia 18 de junho de 1946, em Santo Amaro da Purificação, cidade do Recôncavo Baiano. Filha de Seu Zeca Veloso, o "Onça", funcionário dos Correios e Telégrafos e de Dona Canô, a força transformadora da terra no pequeno corpo de mulher, nasceu no sobrado na Rua Direita, em cima do local onde seu pai trabalhava. Desde criança, convivendo com os irmãos Rodrigo, Roberto, Caetano, Clara, Mabel, Nicinha e Irene, já demonstrava o que seria a sua marca definitiva - a força dramática, as atitudes apaixonadas, a determinação, a energia telúrica. Queria ser atriz, subir ao palco para representar. Respirava, incentivada pelo fértil ambiente de casa, a mágica atmosfera da arte, a sensibilidade das pequenas grandes coisas da vida, a descoberta da leitura do mundo em suas cores, gestos, palavras e sons.

Em 1960, com 14 anos incompletos, muda-se com o irmão Caetano para Salvador, capital do Estado da Bahia, para continuação dos estudos. Apesar de resistir às mudanças, de querer continuar vivendo em sua terra natal, por determinação dos pais, troca a tranqüila Santo Amaro pela Bahia, nome que os baianos do interior dão à cidade de Salvador. Talvez ainda não soubesse que na movimentada e criativa vida cultural de Salvador no início dos anos 60 fosse encontrar o primeiro palco de sua vida artística.

A vida que parecia tão desinteressante em Salvador transforma-se rapidamente. Da imobilidade do olhar diante das calmas águas do Dique do Tororó, Bethânia, acompanhada pelo irmão Caetano, descobre o inquietante e fervilhante ambiente cultural da cidade - os trabalhos da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, as mostras de artes plásticas, os grupos de cinema, os shows de música, as discussões intelectuais e o movimento estudantil. A Bahia, como todo o Brasil, vivia um poderoso momento de criatividade e de transformação cultural, ancorado em um debate aberto sobre as tendências contemporâneas em todos os campos.

Em 1963, Caetano é convidado pelo amigo Álvaro Guimarães para musicar a peça Boca de Ouro, de Nélson Rodrigues. Na abertura da montagem, Bethânia sobe ao palco para cantar pela primeira vez em público a canção Na Cadência do Samba de Ataulfo Alves. Neste mesmo ano, os irmãos conhecem Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e tantos outros que iriam marcar em definitivo a Música Popular Brasileira, influenciados pela Bossa Nova e, principalmente, por João Gilberto.    

A partir daí e no ano seguinte, o grupo apresenta-se nos espetáculos Nós por Exemplo, Nova Bossa Velha Velha Bossa Nova e no show Mora na Filosofia.

Bethânia, durante o Show Opinião.
O golpe militar de 1964 parecia interromper bruscamente a movimentação cultural efervescente na época. Mas, ao contrário, as forças de resistência e os núcleos de criação multiplicaram-se. Um dos espetáculos de maior importância naquele momento histórico foi o Show Opinião, idealizado, escrito e produzido por Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar, Paulo Pontes e Armando Costa e dirigido por Augusto Boal. Estreou no Rio de Janeiro com a cantora Nara Leão, e os compositores e cantores João do Vale e Zé Kéti. Em 65, Nara foi substituída por motivo de doença por uma jovem cantora nordestina de voz grave, chamada Maria Bethânia, que estreou profissionalmente no dia 13 de fevereiro. Cantando Carcará, música de João do Valle, Bethânia arrebatou público e crítica e fincou raízes em definitivo naquele que é até hoje o seu lugar do sagrado e do mistério da criação - o palco. Continua a viagem que se iniciou no vapor de Cachoeira. Continuou pela beira de mar e agora se prepara para conquistar mares nunca dantes navegados.

No mapa de suas navegações, participa, em 66, ao lado de Gal, Gil, Caetano, Pitti e Tom Zé dos shows Arena Canta Bahia e Tempo de Guerra, dirigidos por Augusto Boal. No mesmo ano, apresenta-se com Gilberto Gil e Vinicius de Mores, o poeta que emprestou a sua lírica às harmonias de Tom Jobim e com João Gilberto representaram o tripé da Bossa Nova, no show Pois É. Defende a música Beira Mar, de Caetano e Gil, em setembro do mesmo ano, no I Festival Internacional da Canção, também no Rio. Já havia gravado dois compactos, além dos discos Maria Bethânia e Maria Bethânia canta Noel Rosa, todos em 1965.

Em 1967 grava o disco Edu Lobo e Maria Bethânia e realiza uma série de shows em teatro no ano seguinte, vários dos quais seriam transformados em discos - Recital Boite Cangaceiro; Recital Boite Barroco; Yes, Nós temos Maria Bethânia; Comigo me Desavim, primeiro show dirigido por aquele que seria o seu diretor mais constante - Fazi Arap; Recital na Boite Blow Up; Brasileiro Profissão Esperança. Em 1968, grava um disco com Caetano e Gil, em que canta somente cações de Noel Rosa.


ANOS 70
  
“A Tua Presença”  (1971) é o título de seu álbum de estréia na Philips. Nos cinco anos seguintes, apenas mais um LP teve faixas separadas. Foi “Drama” (1972). Os outros três, baseados nos shows “Rosa dos Ventos – O Show Encantado” (1971) , “Drama – Luz da Noite” (1973) e “Cena Muda” (1974), tinham uma sequência ininterrupta.
Doces Bárbaros. Reuniu Maria Bethânia,
Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil.

Ainda no ano de 1972, Bethânia participou ao lado de Nara Leão do filme Quando o Carnaval Chegar, que a aproximou oficialmente da obra de Chico Buarque de Hollanda, de quem se tornaria a maior intérprete, segundo ele próprio. Três anos mais tarde, os dois gravaram um disco juntos, oriundo do show de ambos no Canecão (Rio de Janeiro). Em 1976 outro espetáculo se transformou em LP, os célebres Doces Bárbaros, reunindo Maria Bethânia, seu irmão Caetano Veloso e, os também baianos, Gal Costa e Gilberto Gil. Nesse mesmo ano ela gravou o LP “Pássaro Proibido” . Em 1977, com “Pássaro da Manhã”, baseado num espetáculo que ficou seis meses em cartaz no Teatro da Praia (Rio de Janeiro), ela registrou, como jamais alguém o fez, um forte exemplo da justaposição texto-música, sua marca registrada e consagrada.

Foi na década de 70 que se iniciou a carreira internacional de Bethânia. Ela fez espetáculos no Midem da França, no Festival Internacional de Música no Teatro Olímpico de Roma, dentre outros, e arrancou aplausos ao longo de suas apresentações em suas tournées pela Europa.

Os anos 70 se encerrariam de um modo excepcional para Maria Bethânia.  Além de gravar um LP ao vivo com Caetano Veloso, ela lançou um dos mais bem sucedidos discos de sua carreira “Álibi” (1978) sendo a primeira mulher no Brasil a atingir vendas superiores a um milhão de cópias. As canções deste LP passaram a ser uma referência em sua vida: “Diamante Verdadeiro” de Caetano Veloso, a inédita “Explode Coração” de Gonzaguinha, o clássico “Negue” e “Sonho Meu”, em duo com Gal Costa, tocam até hoje nas rádios do Brasil e não podem faltar no repertório de seus shows.

Em seus três discos seguintes “Mel”, “Talismã” que vendeu 700 mil cópias em apenas 15 dias, e “Alteza”, ela manteve as duas constantes de todos os anteriores, gravar Caetano Veloso e regravar clássicos de autores e cantores do passado.


ANOS 80

Maria Bethânia e João Gilberto
João Gilberto a convidou para participar, com Caetano Veloso e Gilberto Gil, da gravação de seu LP “Brasil” (1981). Nesse  período, Bethânia decidiu  fazer uma revisão em sua obra e, em 1982,  gravaria um disco ao vivo “Nossos Momentos” , relembrando seu primeiro sucesso “Carcará”, homenageando Gonzaguinha, declamando Vinicius de Moraes e Clarice Lispector. Foi também em 1982 que ela fez três espetáculos no Coliseu dos Recreios em Lisboa, sendo condecorada com a Ordem dos Músicos de Portugal.

O ano de 1983 abriu um novo ciclo na carreira de Maria Bethânia. Com seu disco “Ciclo” ela se aproximaria da geografia Bahia-África-Portugal, e o resultado desse trabalho foge aos padrões dos anteriores. Algumas canções de seu show A Hora da Estrela (1984), inspirado na obra de Clarice Lispector, foram incluídas no novo álbum “A Beira e o Mar”.

Entre 1985 e 1989, Bethânia lançou dois discos “Dezembros” e “Maria” pela BMG Ariola, concretizando seu  projeto de não mais gravar anualmente.

ANOS 90

“Memória da Pele” marca sua volta a Polygram. Os 25 anos de carreira são comemorados em 1990 com uma superprodução e ilustres participações de Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Nina Simone, e João Gilberto, entre outros em “Olho d’Água”, um disco variado com composições de Almir Sater “Tocando em Frente”, o reecontro com o passado em “Linda Flor” e o ponto culminante “Pronta Pra Cantar” , canção de louvor de Caetano Veloso para sua irmã,  que ela e Nina Simone juntas elevam à categoria de obra-prima.

Bethânia nunca escondeu sua admiração pelas músicas de Roberto Carlos, a quem carinhosamente chama de “Rei”, e gravou um álbum “As Canções que Você Fez pra Mim” dedicado à sua obra. São 11 músicas com interpretações personalíssimas que conquistaram o coração popular. Mais uma vez ela atinge uma vendagem superior a um milhão de unidades, desfrutando sua consagração perante a crítica, a classe cultural e o povo, sobretudo.
Doces Bábaros, na quadra da Mangueira, em 1994.

Quando o assunto é samba, Maria Bethânia nunca deixa de exaltar sua escola de samba “do coração”, a Estação Primeira de Mangueira. E foi em 1994 que ela, Caetano, Gal e Gil seriam homenageados com o enredo “Atrás da Verde e Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu”, reunindo no desfile do Carnaval do Rio de Janeiro esses quatro baianos. Dezoito anos depois, em março desse mesmo ano, os Doces Bárbaros apresentariam-se juntos outra vez no Royal Albert Hall em Londres.

Aos 50 anos de idade e 31 anos de carreira, com sua voz plena, delicada e tratando cada canção cuidadosamente com carinho e respeito, Bethânia lançou “Âmbar”, em sua volta a EMI Odeon. Um disco onde ela resgatou os clássicos “Chão de Estrelas” de Silvio Caldas/Orestes Barbosa, e “Quando Eu Penso na Bahia” de Ary Barroso/Luiz Peixoto, este com a participação especialíssima de Chico Buarque, e gravou novos compositores como Adriana Calcanhoto, Chico Cesar, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

O sucesso da tournée resultou num novo álbum duplo gravado ao vivo no Palace (São Paulo) em dezembro de 1996. Em “Imitação da Vida”, Bethânia retoma sua fórmula consagrada texto-música, apresentando 28 canções “amarradas” por 11 poemas e textos de  Fernando Pessoa, seu poeta preferido, e volta a ser dirigida por Fauzi Arap.

Esse disco lhe rendeu convites para apresentações no conceituado Festival de Montreux (Suiça), no Coliseu dos Recreios (Lisboa), no Royal Alberto Hall em Londres, e ainda no Festival JVC quando ela realizou um sonho de menina, cantar no Carnegie Hall (Nova York), palco onde se apresentaram divas como Billie Holiday e Edith Piaf, a quem Maria Bethânia foi comparada pelo jornal The New York Times.

No ano de 1998, ela receberia diversas homenagens pela contribuição de sua obra à língua portuguesa. No Brasil, dentre outras, a Medalha Grão Mestre da Bahia. No exterior foi condecorada com a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique, pelo Presidente da República de Portugal Jorge Sampaio.

Nesse mesmo ano, após uma minuciosa pesquisa em diversas áreas da música popular brasileira, Bethânia gravou seu novo disco “A Força que Nunca Seca” com um repertório que reflete e expressa a visão serena que ela tem sobre a dura realidade do Brasil.  Ela uniu clássicos como “Trenzinho Caipira” (Villa Lobos/Ferreira Gullar), “Luar do Sertão/Azulão” (Catulo da Paixão Cearense),  e “Romaria” (Renato Teixeira) à “É o Amor” (Zezé de Camargo), “Gema” (Caetano Veloso) e “As Flores do Jardim da Nossa Casa”  (Roberto e Erasmo Carlos) com ousadia e sutileza, como somente Maria Bethânia, cantora aprimorada no domínio de sua missão artística, é capaz de fazer.

O show oriundo desse disco se transformou em mais um álbum duplo “Diamante Verdadeiro”, lançado em 1999. O Brasil está às vésperas de completar 500 anos e Bethânia faz uma leitura teatral de “Navio Negreiro” de Castro Alves, no palco.

ANOS 00

O ano de 2000 foi marcado por grandes concertos e encontros musicais. Em Abril ela se apresentou ao lado do tenor italiano Luciano Pavarotti, em Salvador (Bahia), em Maio fez um espetáculo com Caetano Veloso no Pavilhão Atlântico em Lisboa (Portugal), e na noite de 31 de dezembro diante de mais de 200.000 pessoas fez um show com Gilberto Gil no Farol da Barra (Bahia/Salvador).

Maria Bethânia comemorou 35 anos de carreira em 2001, completados na verdade em 2000, (a data oficial de sua estréia profissional é 13 de Fevereiro de 1965, o dia exato em que subiu ao palco no show Opinião no Rio substituindo Nara Leão). E em dose dupla: o show de lançamento do novo álbum "Maricotinha" reuniria no dia 04 de Setembro no palco do Canecão, Rio de Janeiro, uma constelação de grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, e Gilberto Gil, prestando sua homenagem à diva.

No repertório de "Maricotinha" quase tudo é novo: entre as inéditas estão "Dona do Dom" de Chico César, "Depois de Ter Você" (Adriana Calcanhoto), "Quando Você não Está Aqui" (Herbert Vianna e Paulo Sergio Valle), "Se Eu Morresse de Saudade" (Gilberto Gil) e "A Moça do Sonho" (Chico Buarque e Edu Lobo). Dentre as regravações, "Maricotinha", a canção-título de Dorival Caymmi, ganha um saboroso acento de samba baiano, e "Primavera" (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) que é relida com emoção e sobriedade.

Em 2002, Maria Bethânia surpreendeu ao lançar "Maricotinha ao vivo" pela gravadora independente "Biscoito Fino". O sucesso alcançado pelo álbum duplo, que vendeu mais de 100 mil cópias, mostrou que ela não estava errada. Com 49 faixas, gravado no Directv Hall, em São Paulo, registra o show "Maricotinha", apresentado em inúmeras capitais brasileiras. Além do repertório do último disco, o show apresenta antigos sucessos na voz de Bethânia, como "Álibi" (Djavan), "Ronda" (Paulo Vanzolini), "Anos dourados" (Chico Buarque e Tom Jobim), "Festa" (Luiz Gonzaga Júnior) e "Opinião" (Zé Kéti), esta última a música que lançou a cantora em 1965, quando substituiu Nara Leão no show de mesmo nome. Dirigido por Fauzi Arap, no espetáculo são recitados textos de Fernando Pessoa, Ferreira Goulart, José Vicente, Lya Luft, Sophia de Mello Breyner e Natália Correa.

"Maricotinha ao vivo", um dos maiores sucessos da carreira, foi lançado também em DVD, em 2003. Desta vez, foi filmado na tradicional casa de espetáculos carioca, o Canecão. Além da apresentação no Rio de Janeiro, o DVD traz os videoclipes "A voz de uma pessoa vitoriosa", que mostra o Rio de Janeiro dos anos 60, e "Coração meu", vídeo composto por cenas fluviais e marinhas.

"Maricotinha ao vivo", um dos maiores sucessos da carreira, foi lançado também em DVD, em 2003. Desta vez, foi filmado na tradicional casa de espetáculos carioca, o Canecão. Além da apresentação no Rio de Janeiro, o DVD traz os videoclipes "A voz de uma pessoa vitoriosa", que mostra o Rio de Janeiro dos anos 60, e "Coração meu", vídeo composto por cenas fluviais e marinhas.
Antes do DVD "Maricotinha ao vivo", Maria Bethânia lançou o álbum "Cânticos, Preces, Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu", em que homenageia Nossa Senhora. Neste compacto, a cantora reafirma toda sua religiosidade, presente em quase toda sua obra. O disco começa com "Oferta de flores", peça de domínio público, de intenso caráter devocional, bastante popular no Recôncavo Baiano e nas procissões de Santo Amaro da Purificação. "Ave Maria", de Caetano Veloso, tem participação especial da cantora Nair Cândia. "O doce mistério de Maria", poema escrito por Fauzi Arap a pedido de Bethânia, tem seus versos complementados por "O Doce mistério da vida", versão de Alberto Ribeiro para "Ah! Sweet mistery of life", de Victor Herbert, que já havia sido gravada em português pela própria cantora, nos anos 70. Além de novenas de Domingos de Faria Machado, o disco tem "Ave Maria", de Schubert, "Mãe de Deus das Candeias", com Gilberto Gil na voz e no violão. Tem ainda "Ladainha de Santo Amaro", escrita pela irmã Mabel Velloso para o aniversário de 50 anos de Bethânia, e "Ladainha de Nossa Senhora", recitada pela mãe, dona Canô Velloso. A cantata "Magnificat", de Johann Sebastian Bach, encerra o disco em grande estilo.

Bethânia reafirmou sua independência em 2003. Inaugurando seu selo "Quitanda" dentro da "Biscoito Fino", a cantora lançou "Brasileirinho". Ela classificou o disco como um release, que mostraria o panorama de sua nova empreitada fonográfica. No entanto, "Brasileirinho" parece ter superado as expectativas, conquistando crítica e público. Com participações especiais de Miúcha, Nana Caymmi, do grupo Tira Poeira, formado por cariocas, gaúchos e catarinenses, na música "Padroeiro do Brasil" (Ary Monteiro e Irany de Oliveira), e do grupo experimental mineiro Uakti na faixa "Salve as Folhas", o disco viaja pelos diversos brasis do interior. As faixas são intercaladas com intervenções poéticas de Ferreira Gullar, recitando "O Descobrimento", de Mário de Andrade, e de Denise Stoklos, que interpreta "O poeta come amendoim", também do escritor paulista. Bethânia ainda declama Guimarães Rosa. Canta a metáfora do navio negreiro, entre a África e o Brasil, em "Yáyá Masemba" (Roberto Mendes e Capinam), lembra o santo casamenteiro "Santo Antônio" (Jota Velloso). "Capitão do Mato" (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro) e "São João Xangô Menino" (Caetano Veloso e Gilberto Gil). "Boiadeiro" (Armando Cavalcanti e Klecius Caldas) lembra Pernambuco de Luiz Gonzaga, enquanto "Cigarro de Palha" remete às Minas de Guimarães Rosa. Encerra o disco com "Pátria Minha", de Vinicius de Moraes e com "Melodia sentimental", de Villa Lobos.
No ano seguinte foi lançado o registro do show do disco "Brasileirinho", gravado ao vivo no Canecão, em DVD. O repertório extrapola o álbum e conta com 36 faixas, retomando as parcerias com Miúcha, Nana Caymmi, e com os grupos Uakti e Tira Poeira, que participam mais do espetáculo. Estão presentes também as intervenções poéticas feitas tanto por Denise Stoklos e Ferreira Gullar, como pela própria Bethânia. Nos "extras", um making of do espetáculo com entrevistas, além da versão exclusiva de "Trenzinho Caipira" e de versões em close de "Cigarro de Paia" e "Motriz".

Quase como continuação de "Brasileirinho", Bethânia produziu a homenagem "Namorando a Rosa", para Rosinha de Valença. Violonista, Rosinha teve grande participação na carreira de sucesso de Bethânia. Dirigiu seu espetáculo "Comigo me Desavim", em 1967, e gravou "Cheiro de Mato", álbum de 1976 que influenciou a obra da cantora baiana. O disco tem 13 músicas, com uma gravação de Rosinha de Valença e faixas interpretadas por Chico Buarque, Bebel Gilberto, Maria Bethânia, Yvone Lara, Delcio Carvalho, Yamandú Costa, Alcione, Martinho da Vila, Turíbio Santos, Joanna, Miúcha, Hermeto Pascoal e Caetano Veloso.
Em 2005, outra homenagem, desta vez mais pessoal, ao poeta Vinicius de Moraes. São 15 faixas nas quais Bethânia interpreta parcerias do "poetinha" com Antonio Carlos Jobim, Garoto, Chico Buarque, Carlos Lyra, Baden Powell, Toquinho, Adoniran Barbosa, Jards Macalé, além de uma versão de Caetano Veloso para "Nature Boy" (Eden Ahbez) e de um antigo registro de voz de Vinicius, recuperado por ela. O disco não deixa de ser uma retribuição de Bethânia à música "O mais-que-perfeito", de Vinicius e Macalé, que ratificou a generosidade visionária do poeta ante a geração de Bethânia, Caetano, Chico, Edu e do próprio Macalé.

Dentro do mar tem rio, e dentro da cultura popular brasileira tem, incansável e talentosamente,  Maria Bethânia.  Foi assim que no ano em que completou 60 anos de idade, a intérprete, já consagrada diversas vezes, foi sucesso absoluto e reconhecido.  

Em 2006, a cantora foi a grande vencedora da 4° Edição do Prêmio TIM de Música,  evento que homenageou Jair Rodrigues, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Faturou três categorias: Melhor Cantora de MPB, Melhor Disco de MPB (Que Falta Você Me Faz/Biscoito Fino, produzido por Moogie Canazio) e Melhor DVD (Tempo, Tempo, Tempo/ Biscoito Fino, dirigido por Bia Lessa).

Foi neste ano também que Maria Bethânia lançou simultaneamente dois discos que têm a água e a poesia como os fios condutores. Mar de Sophia (Biscoito Fino), inspirado na poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner, traz uma visão feminina sobre o mar, seus símbolos e a relação histórica com Portugal. Em Pirata (Quitanda), ela interpreta o universo folclórico e afetivo das águas dos rios e cachoeiras da própria infância na terra natal, Santo Amaro da Purificação.

Em novembro, a baiana iniciou a apresentação do show Dentro do Mar Tem Rio, no qual interpretava as canções dos dois discos. Dividido em dois atos, Bethânia começa o show com Canto de Nanã, do mestre Dorival Caymmi, e segue interpretando compositores clássicos como Tom Jobim (Praias desertas), Edu Lobo e Capinam (O tempo e o Rio), o mano Caetano (Onde eu Nasci Passa  um Rio), entre vários outros, além de artistas contemporâneos como Ana Carolina e Jorge Vercilo (Eu que não sei quase nada do mar) e Vanessa da Mata (Sereia de Água Doce)...  No palco, Maria Bethânia faz o que mais gosta além de cantar, ao falar, com maestria, textos de Sophia de Mello Breyner, Guimarães Rosa, João Cabral de Mello Neto e Fernando Pessoa.

A turnê fez tanto sucesso que se estendeu ao longo de todo o ano de 2007, desaguando sua música em vários estados do Brasil, além de Portugal, Espanha, Chile e Suíça, onde inaugurou uma nova sala dentro do tradicional Festival de Jazz de Montreux.

Em novembro, lançou em Cd duplo (Biscoito Fino) o registro das apresentações do show Dentro do Mar Tem Rio, gravado em agosto num Canecão superlotado de fãs extasiados.

Neste mesmo ano, Bethânia repete a dose de 2006 e leva novamente o Prêmio Tim de Música, dessa vez como Melhor Cantora de MPB e Melhor Disco (Mar de Sophia/Biscoito Fino). Outros dois prêmios podem ser associados ao nome dela: Melhor Projeto Visual (Gringo Cardia, por Pirata) e Melhor Canção (Beira- Mar, de Roberto Mendes e Capinam).

O ano de 2008 começa e, já em fevereiro, lança com a cantora cubana Omara Portuondo, ex-integrante do lendário grupo Buena Vista Social Clube, o CD Omara Portuondo e Maria Bethânia (Biscoito Fino), com edição especial que agrega um Dvd documentário dos bastidores das gravações. Jaime Alem e Swami Jr., maestros respectivamente de Bethânia e Omara, assinam a produção musical.

Na seqüência, vem a turnê: juntas, Omara e Bethânia estréiam em março no Rio de Janeiro, depois seguem para São Paulo, Belo Horizonte, Maceió, Olinda, Distrito Federal, Aracajú, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e, em junho, Chile e Argentina.  

O mês é fechado com chave de ouro: Maria Bethânia é escolhida Melhor Cantora pelo Prêmio Shell de Música 2008. A conquista agrega à carreira brilhante outro pioneirismo, a de ser a primeira intérprete a faturar o prêmio. Até  2007, a premiação só agraciava compositores.


DISCOGRAFIA

Estúdio

1965 - Maria Bethânia - Sony BMG/RCA
1966 - Maria Bethânia Canta Noel Rosa - Sony BMG/RCA
1967 - Edu e Bethânia - Universal Music/Elenco
1969 - Maria Bethânia - EMI
1971 - A Tua Presença... - Universal Music/Philips/Polygram
1971 - Vinicius + Bethânia + Toquinho - en La Fusa (Mar de Plata) - RGE
1972 - Drama - Universal Music/Philips/Polygram
1976 - Pássaro proibido - Universal Music/Philips/Polygram
1977 - Pássaro da manhã - Universal Music/Philips/Polygram
1978 - Álibi - Universal Music/Philips/Polygram
1979 - Mel - Universal Music/Philips/Polygram
1980 - Talismã - Universal Music/Philips/Polygram
1981 - Alteza - Universal Music/Philips/Polygram
1983 - Ciclo - Universal Music/Philips/Polygram
1984 - A beira e o mar - Universal Music/Philips/Polygram
1987 - Dezembros - Sony BMG/RCA
1988 - Maria - Sony BMG/RCA
1989 - Memória da pele - Universal Music/Polygram
1990 - 25 anos - Universal Music/Polygram
1992 - Olho d'água - Universal Music/Polygram
1993 - As canções que você fez pra mim - Universal Music/Polygram
1993 - Las canciones que hiciste para mí - Philips-PolyGram
1996 - Âmbar - EMI
1999 - A força que nunca seca - Sony BMG
2001 - Maricotinha - Sony BMG
2003 - Cânticos, preces, súplicas à Senhora dos jardins do céu na voz de Maria Bethânia - Sony BMG/Biscoito Fino
2003 - Brasileirinho - Quitanda
2005 - Que falta você me faz - Músicas de Vinicius de Moraes - Biscoito Fino
2006 - Pirata - Quitanda
2006 - Mar de Sophia - Biscoito Fino
2007 - Omara Portuondo e Maria Bethânia - Biscoito Fino
2009 - Encanteria - Quitanda
2009 - Tua - Biscoito Fino 

Ao Vivo

1968 - Recital na Boite Barroco - EMI
1970 - Maria Bethânia Ao vivo - EMI
1971 - Rosa dos ventos Ao vivo - Universal Music/Philips/Polygram
1973 - Drama 3º ato - Universal Music/Philips/Polygram
1974 - Cena muda - Universal Music/Philips/Polygram
1975 - Chico Buarque & Maria Bethânia ao vivo - Universal Music/Philips/Polygram
1976 - Doces bárbaros - Universal Music/Philips/Polygram
1978 - Maria Bethânia e Caetano Veloso - ao vivo - Universal Music/Philips/Polygram
1982 - Nossos Momentos - Universal Music/Philips/Polygram
1995 - Maria Bethânia: Ao vivo - Universal Music/Polygram
1997 - Imitação da Vida - EMI
1998 - Diamante Verdadeiro - Sony BMG
2002 - Maricotinha: Ao Vivo - Biscoito Fino
2007 - Dentro Do Mar Tem Rio - Biscoito Fino
2010 - Amor, Festa, Devoção - Biscoito Fino

Compactos

1965 - Maria Bethânia - Sony BMG/RCA
1965 - Maria Bethânia - Sony BMG/RCA

Espetáculos

Nós, por exemplo (1964)
Nova bossa velha, velha bossa nova (1964)
Mora na Filosofia (1964)
Opinião (1965)
Arena canta Bahia (1966)
Tempo de Guerra (1966)
Pois é (1966)
Recital na Boite Cangaceiro (1966)
Recital na Boite Barroco (1968)
Yes, nós temos Maria Bethânia (1968)
Comigo me desavim (1968)
Recital na Boite Blow Up (1969)
Brasileiro, Profissão Esperança (1970)
Rosa dos Ventos (1971)
Drama - Luz da noite (1973)
A cena muda (1974)
Chico & Bethânia (1975)
Os Doces Bárbaros (1976)
Pássaro da manhã (1977)
Maria Bethânia e Caetano Veloso (1978)
Maria Bethânia (1979)
Mel (1980)
Estranha forma de vida (1981)
Nossos momentos (1982)
A hora da estrela (1984)
20 anos (1985)
Maria (1988)
Dadaya - As sete moradas (1989)
25 anos (1990)
As canções que você fez pra mim (1994)
Âmbar - Imitação da vida (1996)
A força que nunca seca (1999)
Maricotinha (2001)
Brasileirinho (2004)
Tempo, tempo, tempo, tempo (2005)
Dentro do mar tem rio (2006)
Omara Portuondo e Maria Bethânia (2008)
Amor, Festa, Devoção (2009/2010)

VÍDEOS




Especial TV Bandeirantes sobre a apresentação dos Doces Bárbaros em 1994 na Magueira. Canal Re(Verso).


Show Opinião, 1965, Rio de Janeiro. Com apenas 18 anos Bethânia dá inicio a sua carreira cantando Carcará.

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